Modos de ver o mundo

(oitava em dez lições - Life sucks)

Vá preencher o seu vazio

com facebook

reality shows,

e pornografia na internet...

prefiro sumir no mundo

uns fogem pela carne

outros pela culpa

em determinados dias

a mentira insulta

minha covardia

o rancor supera

minha apatia

a preguiça some

ás vezes o mundo castra

as vezes te faz mais homem

baseado em quantas você come

ou no tamanho da pica

que você pode compensar

com automóveis grandes...

iates, apartamentos

ou bombas de sucção

mulher gosta de carrão

viado só quer dinheiro

e eu só quero puteiro

que aceite cartão

na realidade

virtual

Invasões Bárbaras

Guia minha cabeça entre suas pernas

Espreme

Aperta

Exprime

Essa secura é crime

Essa aflição é castigo

Segura meus dedos

Pouco abaixo do seu umbigo

Não esconde o gemido

seu gesto

seu seio

seu sexo

Essa falta de nexo

Ou caminho

Aqui tenho febre

Insônia

Pesadê-lo

Por desconhecer e querer seus segredos

Revelá-los

Decorá-los

Escondê-los

Longe de olhos mundanos

Puxá-la pelos cabelos

Dono da sua chave

Mestre do seu oficio

Senhor do seu repertório

Sua droga seu vício

Com requintes

Resquícios

Submetê-la a meu cio

Lascívia de Sátiro

Catecismos de zéfiro

Dispensa barbitúricos

Recursos lúbricos

Artifícios lisérgicos

Aromas alquímicos

Trazer ao mundo dos fatos

Um amor teórico

tudo planejado

Futuro, presente e passado

Lavrados a termo

Nas cartas

Nos ermos

da densa

Nebulosa da existência

Modo de ver o mundo
(sétima em dez lições – Intuição Natural Relativa Interior)

Nascido em berço católico,
Já nasci devendo.
Prestes a perder,
De tão endividado,
A salvação de minha alma imunda...
Trauma de nascença,
Três gotas pagam o preço...
E a única glória
É a certeza de um enterro cristão.
O mesmo... Se alegrar da tristeza,
Ainda que alheia...
Embora o fardo
Pese nas cangalhas,
Toneladas de migalhas
De pecado original,
Nas costas da humanidade...
A carga, de fato,
Empurra ao copo
Escancara o ócio, o vício.
Negócio lucrativo
De arrebanhar o gado
Na corte do padre eteno.

Modos de ver o mundo
(sexta em dez lições - $$$$)

Tua ganância saciará meu cio...
Tua ambianção combina com meu coração vazio
meu sangue é frio...
Teu corpo é quente...
mas custas às gentes muito dinheiro...
dá-me o que é meu primeiro...
para vender aos plebeus por uns trocados,
depois de aproveitar o meu bocado,
desconta meu numerário
e dá dobrado pra condução...
Vales o que tens na mão...
e não reclama,
não sou otário...
outra ainda me deve o salário,
e a sinuca não espera em vão...

Modo de ver o mundo

(quinta em dez lições – transitoriedade mundana)

Raio me parta

A cachaça

Piora conforme a mangüaça

A fumaça

Cuidado que um dia ela passa,

A desgraça

Tão pouca que até embaraça,

A pirraça

Pintou a mistura de raça

Raio me parta

A cegueira

Aumenta depois da porteira

A tonteira

Afrouxa toda quinta-feira,

A fronteira

Ficou a comer poeira

A besteira

Por conta do Sol na moleira

Raio me parta

Um momento

É pior que um mau pensamento

Um presságio

Cachorro pago com ágio

Um sufoco

Anexado junto a meu troco

Uma lenda

Fincada com chave de fenda

O modo de ver o mundo

(quarta em dez lições - Vai pro Céu! Vai pro Céu!)

Vai pro Céu

levando a do Padre

Quem for fiel.

Vai pro Céu

num instante

Pois quem lhe bate não tem reclame…

Vai pro Céu

amarrado

Não teve como fugir pro inferno…

Vai pro Céu

batizado

Por não ter dentes, não mastigou a hóstia…

Vai pro Céu

canonizado

Pelo pecado pela covardia

Vai pro Céu

perdoado

Quem tiver vocação pra ovelha…

O modo de ver o mundo

(terceira em dez lições – luxos e luxúria)

Pra puta dessa semana...

Daquela puta semana passada...

Nada restou… pouco me veio...

Sacia a fome da pica,

Esquece a fome do corpo,

Enceta novas artimanhas…

Da arte de procriar…

De demarcar território,

No purgatório,

Do salão de outra piranha…

É fácil levar pra cama,

Pro meio do mato,

Levar prum canto,

Levar pro quarto…

É desacato,

É desaforo… sair impune.

Quem for imune,

Desapareça,

Merece muito do meu desprezo,

Do meu vazio,

Meu desespero…